Carol e dona Quininha
Carol e dona Quininha

Portugal e a experiência social que me fez crescer e respeitar ainda mais os idosos

Olá, meu nome é Caroline Cabral, e voltei de Taipas, em Portugal, onde realizei meu Intercâmbio Social pela AIESEC Goiânia.

Caroline explorando Portugal.
Caroline explorando Portugal.

Há algum tempo eu sentia a necessidade de fazer um intercâmbio. Um velho sonho que iria me fazer crescer como pessoa, como também me proporcionar conhecimentos para além da minha formação acadêmica. Pesquisei por um tempo e lembrei da minha calourada, quando um representante da AIESEC apresentou o trabalho da instituição. Com sonhos e desejos no bolso, procurei a AIESEC aqui da minha cidade para que eu pudesse engatar o sonho na primeira marcha e fazê-lo andar.

A primeira coisa em que pensei foi um país onde eu fosse querer passear e que me sentisse 100% segura, então parti para Portugal no Projeto ATIVA!. O lar o qual eu era voluntária fica em Taipas, pertinho de Guimarães que é a cidade onde nasceu Portugal. O projeto tinha como propósito gerar melhor qualidade de vida para os idosos que estavam em situação de institucionalização, objetivando levar para esses idosos, pessoas amigas e ajudantes para facilitar o dia-a-dia deles.

Intercambistas que embarcaram nesta aventura que é realizar um intercâmbio.
Intercambistas que embarcaram nesta aventura que é realizar um intercâmbio.

Como tem muitos pontos positivos, irei falar o único negativo: em meu lar tinha uma responsável pela animação, mas o lar esperava que eu também fosse animadora, mesmo tendo uma que trabalhava lá o dia inteiro. Acabei tendo um conflito leve com a direção do lar por conta disso, todavia como eu auxiliei muito em outras tarefas, elas deixaram de lado. Eu aprendi muito a desenvolver o amor ao próximo, paciência, ser mais carinhosa e ter um respeito maior pelo outro.

Eu acabei focando minha atuação com os idosos com algum tipo de deficiência cognitiva, os que não conseguiam conversar direito ou contar uma história por inteiro, pois estes eram os que acabavam sendo “deixados de lado”, ou seja, excluídos pelos outros idosos no momentos de socialização.

Sorriso de Carol durante o projeto social em que trabalhou.
Sorriso de Carol durante o projeto social em que trabalhou.

Tenho três idosas que me marcaram bastante: Pilar, Quininha e Alice.

A dona Pilar era uma espanhola para lá de rabugenta, mas logo conseguimos criar um laço afetivo. Talvez porque não éramos nativas. Como eu era brasileira e o Brasil é conhecido por ter samba, eu costumava levá-la ao banheiro, pois ela sempre ia cantando e rebolando o quadril para eu dançar com ela… afinal, brasileiras amam dançar! Era muito fofo!

Sempre depois do almoço costumávamos ficar de mãos dadas em frente a uma parede de vidro que dá para rua, vendo as pessoas passar e ela contando histórias de seu ex-marido, de ex-chefes, de sua mãe e as vezes cantando músicas típicas para mim. E se eu levantasse para beber uma água, ela logo começava a gritar para mim, brincando comigo. Foi a despedida mais difícil. Ela chorou bastante e perguntava porque eu tinha que voltar para casa. Porém, sempre que eu falava que eu deixei meus pais sozinhos aqui no Brasil, ela falava que filhos devem ficar junto de seus pais e entendia o porquê do meu retorno.

Carol e dona Pilar.
Carol e dona Pilar.

A Quininha era a senhora dos ativos (que andavam) com a maior deficiência cognitiva. Ela tem um rosto muito doce e por isso fui logo atraída por ela. Todos os dias pela manhã rezávamos o terço juntas (Portugal é um país extremamente católico) e depois eu lia alguma revista para ela, já que ela não conseguia mais ler por conta da vista. De modo geral eu ficava sempre de olho nela, cuidando, conversando, auxiliando para ela chegar em outros cômodos do lar, e toda vez que eu a ajudava com algo, ela apertava minha mão, me dava um beijo na bochecha e falava: “você é minha melhor amiga“.

Não tem palavras suficientes para descrever minha emoção ao ouvir essas palavras e lembrar delas agora. Pensar que não fiz nada mais que qualquer ser humano de bom coração. Sinto saudades dela quase todos os dias.

Carol e dona Quininha.
Carol e dona Quininha.

A terceira idosa que me marcou foi dona Alice. Era a idosa mais ativa do lar, inclusive tinha carro, viajava e aos fins de semana ia para sua casa própria. Ela morava junto de sua filha, e investigando cheguei à conclusão que filha dela sofreu paralisia infantil e por isso elas moravam no lar, já que Dona Alice não conseguia cuidar da filha sem auxílio.

Dona Alice e sua filha durante a vida viajaram praticamente o mundo INTEIRO! E tinham álbuns de cada viagem que fizeram. Quando contei para Dona Alice meu desejo de também fazer algo do tipo, ela logo me convidou para duas vezes por semana sentar na sala delas lá no lar e ouvir histórias de suas viagens.E foi o que eu fiz. Depois de meu expediente, duas vezes por semana, eu sentava para escutar Dona Alice contar sobre suas viagens a Tailândia, Estados Unidos, Grécia… toda a Europa.

Carol e dona Alice.
Carol e dona Alice.

O que eu trouxe de volta foi um enorme crescimento emocional, mil histórias para contar e muitas saudades. Assim, passei a divulgar a AIESEC para meus amigos e incentivar mais o amor com os idosos.

Saudades eternas desta experiência do trabalho voluntário em Portugal.

Por Caroline Cabral.

Caroline Cabral é estudante de Psicologia pela PUC-GO. Fez parte de um projeto em Portugal com idosos. Ama viajar, metida a escritora, tem um blog o Cartas de Quixabeira; e com uma lista tão grande de lugares que ainda quer conhecer que espera viver até os 100.

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