O meio de transporte mais barato do país, opção de boa parte dos Chineses, na maioria das vezes é bem cansativo e pode ser também bem sofrido em algumas situações.
Existem várias opções para quem deseja se aventurar de trem pelo gigante Chinês. Você pode escolher desde trens de velocidade normal, que chegam a levar 30 horas para cruzar o país; trens de média velocidade, que levam entre 8 a 15 horas, dependendo da distância; até os trens de alta velocidade, que chegam a fazer um trecho como de Xangai a Pequim em até 5 horas. Há também a opções de conforto: cadeira, sleeper normal e sleeper soft. Mais detalhes sobre valores de tickets você pode encontrar neste site vinculado ao Tripadvisor.
É claro que, quanto mais rápido e confortável for o trem, mais cara será a passagem, chegando muitas vezes ao valor de um ticket aéreo, o que algumas vezes não compensa se formos comparar preço e tempo de viagem. Por isso, para a grande maioria dos Chineses, a opção geralmente é a mais barata possível, ou seja, viajar em trens de velocidade normal e em assento comum, que tirando o trem bala, não é nada confortável.
E a minha experiência por aqui não poderia ser diferente. Como toda backpacker fiz como a grande maioria dos cidadãos locais e percorri o país em mais de 55 horas de trem, fazendo 3 cidades em 10 dias, durante a 3ª semana do mês de Março. Ao todo investi 656 RMB, em torno de R$ 245, mas lembrando que foi hard seat. Os mesmos trechos em sleeper de trens de velocidade normal custariam aproximadamente 1300 RMB, já os trens bala como mencionado acima custam quase uma passagem área. Vivi alguns momentos de estresse e outros de tranquilidade durante os trajetos realizados. A dica é procurar viajar durante a semana, onde os trens de baixo custo costumam não ser tão cheios, tornando a viagem menos desgastante.
Bom, e a viagem em si? Como é viajar de trem pela China? Os trens são apinhados de gente. Trens superlotados. Trens onde do corredor a pia de lavar as mãos na maioria das vezes tem gente em pé, gente no chão, gente dividindo espaço com malas e sacolas, gente tentando dormir, gente tentando comer, gente tentando chegar ao seu destino. Vi muitos viajando horas em pé, vi muitos revezando a cadeira com outros familiares, vi muitos esperando apenas pela próxima estação para ver se sobrava um lugar, que fosse, um pouco mais confortável, na tentativa de tornar a viagem menos cansativa.
Mesmo com uma quantidade absurda de trens partindo e chegando toda hora, a população Chinesa é também monstruosa e não há trem que comporte tanta gente querendo viajar a baixo custo neste país; ainda mais se viajar em pé, no chão ou comprar um assento tem o mesmo valor. Mas tirando esta parte mais pesada, durante a viagem há um bacana “serviço de bordo” que inclui a venda de bebidas, comidas e frutas por um preço bem razoável, além de água quente sempre; e porque não a venda de eletrônicos como carregadores de celulares e outros produtos como kits de unhas. Alguns vendedores costumam ser bem engraçados na tentativa de chamar a atenção dos cansados passageiros. O tempo entre um serviço e outro geralmente é de uma a duas horas. No entanto, como forma de economizar a grande maioria dos passageiros traz suas sacolinhas de “miojo”, comida, frutas, água, garrafas de chá e etc. É o jeito Chinês de viajar.
E todo esse esforço para visitar amigos e familiares para eles compensa, assim como compensa para muitos de nós, brasileiros, que atravessamos o país de ônibus para passar o Natal, Ano Novo ou outra data importante ao lado de quem amamos. Assim vi também muita gente sorrindo, jogando conversa fora, passando horas e mais horas jogando carta, escutando música, brincando com os filhos, comendo, dormindo, …, e esperando a sua hora de desembarcar.
Por isso que aqui na China atravessar o país de trem é assim: mais do que uma questão de dinheiro e muita força de vontade; mas uma aventura movida por emoções e bons sentimentos.
Por Juliana Paul Mostardeiro
Juliana Paul Mostardeiro é a fundadora do Aqui é Assim, esse website que junta a paixão por viajar com a vontade de aproximar as pessoas deste fantástico mundo que é o de colocar uma mochila nas costas e sair por aí. Atualmente mora em Florianópolis onde trabalha também como Customer Success Manager na Resultados Digitais. Desenvolveu o projeto Jornalismo Cidadão: o voluntariado no aprendizado com à AIDS com pacientes do Hospital Universitário de Santa Maria nos anos de 2007 e 2008 e foi gerente das Lojas Riachuelo de 2010 à 2013, ingressando na empresa através do Programa de Trainees. É formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Maria e especialista em Gestão de Pessoas pela Universidade Anhanguera.