Avenida Rajpath

Índia: de Hyderabad a Jodhpur – última parte

Última parada: The Golden Triangle – Delhi, Agra & Jaipur

Delhi

A chegada em Delhi nos proporcionou uma grande surpresa. Além do casamento que comparecemos no sul da Índia, acabamos sendo convidadas para mais um na capital indiana, de um primo do amigo que iria nos hospedar na cidade. A família foi muito gentil em estender o convite para a gente, de modo que comparecemos na maior alegria e com a expectativa de presenciar rituais diferentes dos que vimos em Hyderabad e Calcutá, além de mais três dias de festas pela frente.

A cerimônia aconteceu em um hotel nos arredores da cidade e este casamento contava com um público bem maior do que o primeiro. Dentre o que mais me chamou a atenção, destaco a primeira festa, que foi organizada pela família dos noivos e parecia um tipo de show de talentos. Os noivos sentavam na frente e aproveitavam todo o espetáculo preparado pelos seus entes queridos. Quem pensa em algo amador, está enganado. O evento foi minuciosamente preparado – dois primos fizeram as vezes de apresentadores, no estilo Oscar, com direito até a piadinhas para tornar mais engraçado – um coreógrafo foi contratado para guiar as danças, junto com uma bela cenografia; tudo de primeira. Um verdadeiro show!

Decoração do casamento
Decoração do casamento

Tanto a festa, quanto a cerimônia de casamento são muito diferentes do que estamos acostumados aqui no Brasil, além disso tivemos a oportunidade de usar o famoso saree. O lance é o seguinte – os convidados do noivo (dos quais fazíamos parte) saem da casa do mesmo em direção ao local da festa em uma espécie de comitiva. Todos vão dançando ao som de tambores e o noivo vai no meio, em cima de um cavalo branco, junto com um parente mais novo, simbolizando uma espécie de confronto entre gerações. O festejo é muito animado e dura cerca de duas horas. A história por trás desse ritual é que quanto mais tempo a comitiva demora para levar o noivo ao local da cerimônia, supostamente, mais felicidade o novo casal terá.

O saree
O saree

Chegando até a noiva, juntam-se os convidados dos dois lados e inicia-se uma longa cerimônia. Os períodos de oração são intercalados com alguns gestos como, por exemplo, em um dos momentos em que os pais dos noivos caminharam em volta de uma fogueira montada no palco da solenidade. Como misturam muito o hindi com o inglês, não conseguimos compreender algumas partes da celebração. Mesmo assim, pareceu muito bonito e percebíamos o quanto os convidados estavam emocionados com todo o ritual para a união do casal.

Esse aspecto linguístico é muito diferente mesmo, e só depois fui aprender que a constituição da Índia estipula que o hindi e o inglês sejam as duas línguas oficiais da administração federal, de modo que as pessoas – percebi especialmente em Delhi – intercalam os dois idiomas naturalmente na fala, sem perceber que estão fazendo a transição de uma língua para a outra, causando confusão para quem, como eu, entende somente o inglês.

Por falar em emoção, também chamou a atenção, ao fim da festa, a despedida da noiva de seus familiares. A noiva entrou no carro chorando muito e todas as irmãs e primas acompanharam. Fiquei no início sem entender pois parecia uma reação desproporcional, afinal, temos a noção de casamento como um momento de extrema felicidade. No entanto, conversando com as pessoas, percebemos o choque cultural. Lá, não há o costume de morar junto com o noivo antes do casamento ou mesmo de morar sozinha, de modo que as famílias costumam ser bastante unidas. Então, o momento em que a mulher casa, é o momento em que efetivamente ela deixa o convívio de sua família para incorporar a família no noivo, sendo de fato, um momento muito marcante e emotivo. No fim das contas, foi uma experiência muito interessante, não só a de viajar pela Índia, mas também de ter tido a oportunidade de presenciar dois belos momentos da celebração do amor, que em qualquer cultura ou idioma é sempre muito emocionante.

Explorando Delhi

Passados os compromissos do casamento, tiramos uns dias para explorar a cidade. A essa altura da viagem, já estávamos acostumadas com o trânsito e o caos, de modo que não fiquei tão impactada com a grandeza da capital. É impressionante, primeiro, como a gente se acostuma com o trânsito – ao fim da viagem, não mais me incomodava com aquelas buzinas intermitentes; e segundo, como as coisas funcionam no meio do caos, as pessoas de alguma forma se comunicam e se entendem.

Carros, elefantes, tuc tucs, pessoas. O trânsito indiano é assim.
Carros, elefantes, tuc tucs, pessoas. O trânsito indiano é assim.

Embora fuja um pouco do escopo da minha descrição da viagem, lembrei do filme The Lunchbox, uma produção recente de Bollywood – indústria cinematográfica indiana – que, desde já, indico. O filme se passa em Mumbai e além de dar água na boca, com tantas imagens e descrições da culinária indiana, retrata o sistema de dabbawallah – que nada mais é do que entrega de marmitas na hora do almoço. Saiu inclusive um estudo da Universidade de Harvard sobre isso, pois dadas as condições precárias de organização, as entregas chegam no horário e sem muita confusão. O filme brinca um pouco com isso e incorpora elementos de amor, envelhecimento e relacionamentos de modo geral. Para quem tiver curiosidade é só clicar aqui e assistir.

Das atrações Red Fort, o Forte Vermelho, localizado no centro da cidade, é imperdível. Na hora de entrar, ainda mais se for no final de semana, atenção para a fila. Como indianos pagam bem menos na entrada, as filas costumam ser muito grandes. A fila de estrangeiros é mais escondida (e bem menor). O forte tem extensão de 2 km e uma altura que varia de 18 metros ao lado do rio e 33 metros ao lado da cidade. Foi construído entre 1638 e 1648.

O portão principal é o Lahore, pois o forte é na direção desta cidade, hoje pertencente ao Paquistão. Logo na entrada tem uma espécie de bazar, chamado Chatta Chowk. Ao contrário do restante do país, foi um dos poucos lugares que não foi possível barganhar. Tinha placas, inclusive, dizendo que o preço cobrado era o final. Estava tão acostumada a barganhar que passei raiva e não comprei um prato que tinha gostado para meu pai – depois me arrependi, pois comprei um não tão bonito e mais caro em outro lugar. Andando dentro do forte, tem uma série de atrações, desde o Hall de Audiências – públicas e privadas, o Indian War Memorial Museum, o Museu de Arqueologia e uma série de espaços religiosos.

Aproveitamos que estávamos em Old Delhi (parte antiga da cidade), onde fica o Red Fort, e passeamos pelo bairro. Caminhar a pé pode ser muito confuso. Se não estivéssemos com um amigo indiano, que conhecia os caminhos, acho que seria bem complicado. Passamos pela Jama Masjid – a maior mesquita da Índia. Nessa visita, além de ter que tirar os sapatos, deve-se atentar para o vestuário – especialmente as mulheres que devem cobrir a cabeça.

A pausa para o almoço em Old Delhi foi um espetáculo à parte. Lugar despretensioso, de culinária excelente e ótimo custo benefício – Karim’s. Passa-se por uma espécie de um mini labirinto para chegar ao local, que é um pouco escondido, mas fica a dica para uma pausa de almoço, com destaque para os pratos com carneiro. Pedi um em que a carne era tão macia que dava para cortar com a colher. Outra diferença em Delhi, como toda cidade grande, é a de que é mais comum eles fornecerem talheres, especialmente para estrangeiros.

Dentre os passeios, posso destacar ainda a região onde ficam os prédios administrativos do governo indiano e o Parlamento, passeando pela Avenida Rajpath. Ali, atenção para o horário, por causa do sol, pois não há sombra e a caminhada é longa. Do alto da avenida tem uma vista bacana do Portão da Índia – homenagem aos soldados mortos na Primeira Guerra Mundial e na Terceira Guerra Afegã – que também vale uma visita rápida, pois não há muito mais para se ver além do próprio monumento.

Num dos últimos dias, depois de fazer algumas compras pela cidade e almoçar no Khan Market, conhecido por ser um local mais caro para compras em Delhi, uma espécie de shopping a céu aberto, aproveitamos para um passeio mais sossegado. Lodhi Gardens foi uma boa opção. O parque é bem cuidado e passa uma sensação de tranquilidade. Após o almoço, encontramos muitos indianos tirando uma soneca no gramado do jardim – prática bastante comum para recarregar as energias antes de voltar ao trabalho.

Lodhi Gardens
Lodhi Gardens

Para encerrar e se despedir da Índia, o jantar – logo antes de pegar o vôo – foi no magnífico Bukhara, que fica dentro de um hotel. Além dos pães maravilhosos, as carnes eram preparadas à perfeição no tempero. No entanto, o ponto alto da noite foi o dahl de lentilha – carro chefe do restaurante – preparada por 12 horas e que é uma explosão de sabores. O ambiente é decorado rusticamente, como se fosse uma viagem no tempo e lá não tem como pedir talheres – come-se com as mãos mesmo, ou melhor, com a mão direita, como manda a tradição indiana. Comer com a mão é uma verdadeira habilidade – por isso faz tanto sentido as comidas ricas em molhos, acompanhada de pães – facilita muito. Uma despedida perfeita da Índia, de seus sabores e de seus costumes, ficando sempre o gostinho de quero mais.

Bukhara
Bukhara

Por Bibiana Camargo

Bibiana Camargo adora viajar e descobrir novos lugares e sabores. Trabalhou na Câmara dos Deputados em Brasília e atualmente mora em São Paulo, onde trabalha no Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. É formada em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e graduanda em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

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