Depois de duas horas de voo e de conhecer a Casa do Anjo era hora de pousar no pequeno aeroporto do Parque Nacional Canaima. No avião não vinham apenas turistas, mas também mantimentos já que as avionetas são a única forma de alguma coisa chegar ali.
O Parque Nacional Canaima está localizado no estado de Bolívar, foi criado em 12 de junho de 1962 e declarado patrimônio da humanidade pela UNESCO no ano de 1994. Tem uma área de 30.000 km² (pouco maior que o território da Bélgica) e é considerado o sexto maior parque nacional do mundo.
Toda infra estrutura ali é administrada pelos índios e, diferente de outros sítios, o lugar realmente funciona. Entre os morros, chalés VIP recebem turistas que não dispensam o conforto mas, para quem prefere um quarto simples com boa refeição, existem alojamentos grandes e confortáveis.
Depois de guardar as malas é hora de conhecer os saltos da região a bordo de uma pequena lancha. A lagoa é imensa em todos os sentidos, sua beleza não pode ser descrita em palavras, na época da seca uma praia de areia fina se forma a sua frente, bancos de areia e pedra podem ser alcançados a nado; a esquerda a Praia dos Enamorados, a mata e alguns acampamentos escondidos e a direita nada mais que quatro imensas cachoeiras com vários Tepuys ao fundo.
O barco sobe o rio apenas alguns minutos para desembarcamos e então seguirmos por uma trilha que segue o leito do Rio Carrao. De cima vemos a lagoa por inteiro, bem, não por inteiro pois parte dela se esconde tamanha a sua magnitude. Alguns minutos subindo o rio e chegamos a um poço grande de águas escuras, ótimo para banhos, e logo depois aos Saltos El Sapo e Sapito. Ambos são grandes e fortes e podemos caminhar por detrás de toda cortina d’água e sair do outro lado… incrível. Retornamos ao barco para chegar aos Saltos Hacha e Wadaima, que podem ser alcançados na seca caminhando pelo canto direito da lagoa.
Com o final da tarde ainda livre e o dia longo do verão resolvi passar o resto do tempo na lagoa, que para minha surpresa estava vazia de turistas, nenhum sequer; mas eles estavam em alguma parte, pois os vi nas ruas do vilarejo, e pareciam ter algo melhor a fazer. Mas a lagoa não estava vazia, havia sim ali muita gente, todos indígenas locais, homens que saíram da labuta e se refrescavam ao final do dia, mulheres com baldes de roupa torneavam os braços fortes torcendo as malhas enquanto as crianças tomavam banho entre risos e olhos vermelhos.
Naquele instante o Sol se punha na mata entre as palmeiras e eu me senti em um perfeito local, como se ali fosse meu lugar e nada mais precisasse para viver, guardei bem aquele momento, não em fotos ou em vídeos, mas sim na memória, a melhor forma de se lembrar de algo é guardá-lo bem fundo na memória.
A vila pequena tem casas pobres e ruas de terra onde muitas crianças e mulheres passeiam durante o dia, enquanto os homens trabalham. Não há bares, restaurantes, nem lojas, tudo isso está na parte mais cara dos alojamentos de onde muitos turistas não saem. Estrangeiros podem ser vistos dando aula nas praças e, sentados debaixo das árvores, as crianças apoiam seus cadernos como podem, mas sempre com um sorriso no rosto.
A vontade era ficar mais alguns dias, mas os preços são caros e os pacotes curtos, e não tinha me preparado para aquilo que vi, um paraíso encravado no meio de algum lugar perdido…e que assim seja para sempre.
Por Cristian Ferrari
Cristian Ferrari é fundador da Creative Design, empresa localizada em São Paulo, que tem como missão criar peças de identidade visual que reflitam o espírito da sua empresa. Como fotógrafo realizou sua 1ª exposição em 2008, recebendo diversos prêmios desde então pelo seu trabalho. É formado em Turismo pela Universidade Paulista e Técnico em Comunicação Visual pela ETEC Carlos de Campos.