O segundo e terceiro posts da Série por essas Minas Gerais conta como foi a nossa passagem pela histórica Cidade de Ouro Prêto e sua vizinha Mariana. Vamos contar como foi a visita às igrejas históricas e museus, nossa escalada ao Pico do Itacolomi, o passeio no Trem da Vale, a aventura dentro de uma mina e, é claro, os melhores bares e restaurantes locais, além de dicas sobre como encontrar a melhor cachaça do mundo.
Ouro Prêto
Bar da Nida e Mirante do Morro São Sebastião
Nosso terceiro dia nos reservava um delicioso almoço no famoso Bar da Nida e uma vista fantástica da Cidade de Ouro Prêto no Mirante do Morro São Sebastião. Saímos do hostel por volta das 9h30 para pegar um ônibus que nos levaria a famosa feijoada do Bar da Nida. As linhas que sobem o Morro São Sebastião e deixam na porta do bar são a Morro São Sebastião ou Morro Santana.
Lá nos deliciamos com a melhor feijoada da cidade. Comida mineira e bem caseira, feita com carinho, além do lugar ser lindo, bom e barato. Pagamos R$15,00 pelo prato feito e saímos mais do que satisfeitos. O Bar da Nida fica aberto todos os dias, com direito a um bom forró todas às sextas-feiras a noite.
Como todo o santo ajuda na descida, a volta foi a pesito. Fomos cantando, dançando e rindo até chegar ao Mirante do Morro São Sebastião e nos deixarmos ser surpreendidos pela fantástica vista panorâmica da cidade histórica. E que vista! Ficamos por horas ali contemplando Ouro Prêto e sua beleza.
Para terminamos o dia, no fim da tarde fomos no Bairro Lajes ter outra vista panorâmica da cidade e com direito a um belíssimo pôr-do-sol. Com o cansaço pegando mais forte neste terceiro dia viagem, decidimos jantar no hostel e beber algumas cervejas artesanais por ali mesmo, afinal nosso quarto dia na cidade nos reservava a escalada no Pico do Itacolomi e muito mais.
DICA 3:
O único ponto ruim de um domingo em Ouro Prêto é que existem pouquíssimas opções de mercado e padaria abertos. Encontramos uma padaria atrás da Igreja Matriz do Pilar onde conseguimos comprar o necessário para jantar e preparar os nossos lanches para o dia de aventura em meio a natureza.
Pico do Itacolomi
Toda a boa aventura precisa ter um trilha em meio a natureza e foi assim que condecoramos o nosso quarto dia em Ouro Prêto, com uma boa, longa, dolorosa e recompensadora caminhada ao Pico do Itacolomi, tido como ponto de referência para os antigos viajantes da Estrada Real.
Iniciamos o nosso dia cedo e às 10h da manhã, depois de pegar o ônibus (linha Hospital via Bauxita) já estávamos em frente ao Parque Estadual do Itacolomi para começar a nossa aventura. Este parque é uma reserva de Mata Atlântica e possui uma infraestrutura completa para atender visitantes e pesquisadores, indo desde camping a tirolesa. Os valores podem ser consultados no site oficial do parque.
A visitação é aberta de terça a domingo, das 8h às 17h, sendo o credenciamento feito até às 16h. A entrada custa R$5,00, de terça a sexta-feira, e R$10,00 (inteira) e R$5,00 (meia-entrada), aos sábados, domingos e feriados. Crianças até 5 anos e idosos a partir de 60 anos têm direito a entrada gratuita.
Como era uma segunda-feira e o parque não estava aberto, decidimos fazer uma rota por fora do parque, já que o Walter morou na cidade e conhecia um caminho alternativo garantindo a aventura mesmo assim.
Começamos o percurso à 10h e o nosso objetivo era chegar ao topo do pico antes do sol escaldante do meio-dia. Alguns trechos da caminhada foram bem difíceis mesmo para quem, assim como eu, está acostumada com trilhas de longas duração e de nível médio e avançado. Precisei parar diversas vezes para recuperar o fôlego e tomar água à medida que íamos subindo sob o sol quente. Como na maior parte do trajeto não há cobertura vegetal densa, chega em um determinado horário que o sol torna-se o seu pior inimigo, ainda mais quando neste trecho não havia nenhuma fonte d’água para nos refrescarmos.
DICA 4:
leve 2L de água, lanche leve e passe muito filtro solar. Use roupa leve, boné e bota apropriada para trilha. Carregue um casaco pois, apesar de quente, lá em cima no pico é frio e durante a pausa você vai precisar dele.
A trilha é longa. ao todo percorremos 24 km ida e volta, sendo 14 kms de trilha devidamente demarcada, em um total de 5 horas de pura adrenalina. Chegamos ao topo em pleno sol das 12h30. Naquele momento tudo doía, tudo queimava, tudo ardia. Os mil metros finais da trilha foram extremamente desafiadores. De inclinação elevada, a subida parecia sem fim e exigiu o máximo do corpo. Nos minutos finais eu já queria parar em qualquer pedra com sombra, mas o Walter insistiu para que subíssemos um pouco mais e que surpresa! Simplesmente compensador. Uma das vistas mais incríveis da viagem toda. Estávamos a 1.772 metros de altitude. Sensacional!
Sob uma pedra gigante, lá do alto, lanchamos com uma das melhores paisagens que a viagem poderia proporcionar. Refrescados, alimentados e descansados, contemplamos por mais de duas horas o que só a natureza sabe oferecer. Quanta beleza!
Eu que sou amante de trilhas e cachoeiras e amo estar em meio a natureza, fiquei deslumbrada. Lá do alto do pico é possível ver, ali, distantes, pequenas, a cidade de Mariana de um lado e Ouro Prêto de outro. Sem explicação.
Duas hora depois, hora de retornar. Com o sol mais fraco, porém com pouca água, decidimos voltar por um segundo caminho. A descida é mais fácil, apesar de pegar um pouco o joelho; e no meio deste caminho além de paisagens deslumbrantes, encontramos nossa tão esperada fonte de água natural. Garrafas abastecidas, seguimos descendo e apesar de algumas falsas trilhas no meio do caminho, nos guiamos bem até chegarmos no ponto de partida, exaustos e completamente energizados; e com um pico de luz de fim de tarde que só nos fazia pensar o quão gratificante tinha sido aquele dia.
De volta ao chão de asfalto, tivemos forças apenas para passar na república em que o Walter morou, dar um oi para o pessoal e ir ao supermercado comprar algo para cozinharmos. Já no hostel a sequência foi exatamente esta: banho, janta e cama. Sem mais.
Mina da Passagem e Centro Histórico de Ouro Prêto.
Em nosso quinto dia tínhamos duas missões: voltar a Mina da Passagem em Mariana e conhecer verdadeiramente o Centro Histórico de Ouro Prêto. Pegamos um ônibus e chegamos na mina por volta das 10h, compramos a entrada no valor de R$60,00 e embarcamos nessa aventura.
A Mina da Passagem é a maior mina de ouro aberta a visitação do mundo. Seu acesso é feito através de um trolley segurado por um cabo de aço. Percorremos 315 metros em uma descida íngreme até chegarmos as suas galerias subterrâneas, a 120 metros de profundidade. Lá embaixo encontramos 11m² de muita história.
A mina foi uma das maiores fontes de extração de ouro durante o Ciclo do Ouro Brasileiro, tendo sido extraídos do seu interior 35 toneladas desse minério. Para cada 4 gramas de ouro era necessário extrair 1 tonelada de quartzo, o que no decorrer dos anos tornou o custo da extração inviável. Em 14 de dezembro de 1936, após a perfuração do lençol freático, boa parte da mina foi inundada impossibilitando a continuidade dos trabalhos no local. Suas galerias alagadas são hoje o principal ponto de encontro de mergulhadores de cavernas no Brasil.
Durante o passeio, que leva em torno de 40 minutos é possível ver o lago que se formou após a inundação. Rica em arsênio, material pesado, sua água é imprópria para banho e consumo.
Voltamos não só cheios de histórias, mas com algumas pedras da mina na bolsa, como recordação. Nada de ouro, apenas pedaços de quartzos que naturalmente vão caindo pelo chão. Ao lado da mina há um museu onde pode-se comprar pedras e joias da região.
DICA 5:
o topázio imperial é uma da pedras que não poderia deixar de comprar, afinal ele é encontrado somente aqui, neste pequeno pedaço do mundo. Então, não perca a oportunidade de adquirir uma pedra, pequena, que seja para levar na bagagem.
De volta a Ouro Prêto, nossa pausa para o almoço foi no restaurante Acaso 85, outra excelente opção de comida mineira em um ambiente aconchegante. Antiga senzala, o local é super agradável e a refeição não saiu por mais de R$25,00. A tarde nosso foco foi conhecer as e principais igrejas de Ouro Prêto e a Escola de Minas; mas antes fizemos uma pequena pausa na feirinha de pedra de sabão, encontrada em abundância na região, para comprar alguns souvenirs.
A primeira igreja a ser visitada foi a Igreja de São Francisco de Assis. Construída em estilo Barroco, com elementos decorativos do Rococó, é umas das igrejas mais importantes do Brasil do período colonial e uma das maiores expressões da arte do Aleijadinho. Foram 45 anos para concluí-la, sendo 10 anos somente para terminar as esculturas que compõem esta verdadeira arte do Barroco nacional. A entrada custa R$10,00 e durante a visitação não é possível tirar fotos. Nesta época tivemos a oportunidade de ver as peças do Museu do Aleijadinho, que estava em reforma, e por conta disso foram disponibilizadas em uma das salas aos fundos da igreja.
Em seguida fomos para a Igreja Nossa Senhora do Carmo, que fica ao lado do Museu da Inconfidência Mineira, bem próximo a Igreja de São Francisco de Assis. Erguida entre os anos de 1766 e 1776, seu projeto foi idealizado pelo pai do Aleijadinho, Manoel Francisco Lisboa, e modificado pelo próprio filho anos depois. Em estilo Rococó, a igreja foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A entrada custa R$3,00 e durante a visitação não é possível tirar fotos.
Da Igreja Nossa Senhora do Carmo seguimos para a mais bela de todas as igrejas, do meu ponto de vista, a Matriz do Pilar. Toda ornamentada em ouro, do altar a nave, é impossível não se impressionar com tamanha beleza. A Basílica Menor de Nossa Senhora do Pilar, também chamada de Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar, é uma das edificações católicas mais conhecidas e importantes do Ciclo do Ouro. Localizada na Praça Monsenhor Castilho Barbosa a entrada custa R$10,00, mas na ocasião em que visitamos estava ocorrendo uma missa e portanto a entrada foi gratuita. Tombada em 1939 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), infelizmente esta igreja já foi alvo de roubos e por este motivo não é possível fotografar o interior de nenhuma igreja em Ouro Prêto, em uma tentativa de preservar o nosso patrimônio histórico e cultural.
DICA 6:
os museus e as igrejas da Cidade de Ouro Prêto não abrem nas segundas-feiras para manutenção. Logo programe-se para conhecer outros locais neste dia da semana.
Para fechar o dia fizemos a visita a Escola de Minas, que além de abrigar alguns cursos da universidade, possui também o maior museu de mineração do mundo. Lá é possível ver exemplares de minérios do mundo todo, além de aprofundar seus conhecimentos sobre a formação da terra e de suas rochas. A entrada custa R$10,00 e a escola fecha pontualmente às 17h. Do seu jardim é possível tirar uma das fotos mais famosas em Ouro Prêto com o Museu da Inconfidência ao fundo.
A noite, finalizando o dia com chave de ouro, nada melhor do que um rodízio de pizza de O Passo. O lugar é super gostoso, acolhedor e a pizza é realmente divina. Estávamos em um grupo de amigos e a opção para celebrar nossa trip em Ouro Prêto não poderia ter sido melhor.
Museu da Inconfidência e a descoberta da Safra Barroca
Acordamos cedo, arrumamos as nossas malas e saímos para o nosso último dia na cidade histórica que nos reservou a visita ao Museu da Inconfidência Mineira, que conta a história na época dos inconfidentes, na antiga prisão da cidade. A museu abre às 10h e a entrada custa R$10,00. Vale muito a pena!
Ainda pela manhã aproveitei para comprar algumas cachaças mineira, comer pão de queijo e fazer a unha. Sim, fazer a unha 😉 Almoçamos no hostel, que nos presenteou com um delicioso shot de cachaça e nos convidou a visitar ali perto a casa que havia sido do pai do Aleijadinho.
A casa é linda, fica a 3 minutos a pé do hostel Trilhas de Minas e tem a melhor cachaça do mundo: a Safra Barroca. Trabalhada durante 6 anos em barris de madeira, seu sabor adocicado é diferente de todas as cachaças que já experimentei. A edição é limitada e sem pensar duas vezes garanti a minha linda garrafa de Safra Barroca, embalada em pedra sabão, para a viagem.
Encerramos nossa estadia com gostinho de quero mais. Uma das melhores cidades que visitei, Ouro Prêto entrou para a história da minha vida como um dos lugares mais incríveis que coloquei os meus pés.
Rumo a capital, Belo Horizonte …..
Por Juliana Paul Mostardeiro
Juliana Paul Mostardeiro é a fundadora do Aqui é Assim, esse website que junta a paixão por viajar com a vontade de aproximar as pessoas deste fantástico mundo que é o de colocar uma mochila nas costas e sair por aí. Atualmente mora em Florianópolis onde trabalha também como Customer Success Manager na Resultados Digitais. Desenvolveu o projeto Jornalismo Cidadão: o voluntariado no aprendizado com à AIDS com pacientes do Hospital Universitário de Santa Maria nos anos de 2007 e 2008 e foi gerente das Lojas Riachuelo de 2010 à 2013, ingressando na empresa através do Programa de Trainees. É formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Maria e especialista em Gestão de Pessoas pela Universidade Anhanguera.