Olá, meu nome é Mylla Gomes e voltei do México onde estava realizando meu intercâmbio social através da AIESEC Fortaleza
Porque o México?
Durante algum tempo essa foi uma pergunta que ressoava em minha mente algumas vezes ao dia, antes de realizar meu intercâmbio. Sempre tive a vontade de viver essa experiência, mas o país de Roberto Bolaños nunca tinha sido uma opção considerada (principalmente pelo combo idioma + comida), até que conheci a AIESEC.
A proposta da organização ia muito além da simples escolha de um destino: era a oportunidade de viver algo que me tiraria da zona de conforto e me levaria aonde nunca esperei, desenvolvendo diversas habilidades que me trariam uma nova visão de mundo e me transformariam em uma agente de mudanças na sociedade. Portanto, foquei em escolher primeiramente o projeto que iria desenvolver lá e assim me permiti ver as oportunidades de vários países, me apegando apenas ao que eu realizaria de fato: escolhi o My Language Buddy, no qual eu ministraria aulas de português e cultura brasileira para jovens.
Pensando em aprender uma nova língua de forma rápida e eficaz (ao invés de simplesmente praticar o inglês que eu já tinha alguma familiaridade), buscando me deparar com uma cultura muito diferente da minha e abraçar o desconhecido, embarquei com destino a León, no dia 11 de janeiro de 2014.
A chegada
Depois de todo o período de preparação, eis que finalmente chegou o dia de literalmente alçar voo rumo ao que viria a ser a experiência mais desafiadora e incrível da minha vida. De Fortaleza, fui a São Paulo e de lá peguei um avião até a Cidade do México: a ficha demorou a cair, só comecei a me dar conta do que estava acontecendo de fato quando me vi sozinha, correndo contra o tempo para conseguir encontrar o portão de embarque correto (haviam mudado de última hora). A única coisa que consegui pensar quando finalmente estava no avião foi: “Começou. É isso!”
Logo na aterrissagem, o sentimento já era diferente, dali em diante eu seria a estranha em meio ao que era natural ao outros, tudo era encantadoramente novo. Passado o enjoo pós-pouso e a fila da imigração, fui comprar passagens para tomar um ônibus até a cidade onde eu iria viver pelas próximas seis semanas, seguindo à risca tudo o que me foi indicado e recomendado.
Do aeroporto da Cidade do México, fui até Querétaro e de lá peguei um último ônibus até León. A ideia de fazer essas escalas foi inicialmente para economizar (o voo direto era bem mais caro), mas acabou sendo uma ambientação incrível: da janela pude contemplar paisagens distintas e cada instante da jornada.
Quando por fim cheguei! Alguns membros da AIESEC já me esperavam com uma faixa e me entregaram um welcome package com mapas, doces típicos e uma bandeira, dentro de uma mochila bordada com o nome e símbolo do comitê. Eles me levaram até a casa onde eu iria ficar, junto com outro brasileiro, até que tivéssemos uma Host Family. Durante quatro dias permaneci na Trainee House com o Rafa, até que recebemos a proposta de uma membro da organização para ficar em sua casa durante a nossa estadia, com a surpresa de sermos três estrangeiros na família: dois brazucas e um intercambista de Taiwan!
A família que nos recebeu foi bastante acolhedora e fazia questão de nos fazer sentir bastante à vontade, sempre querendo entender mais sobre os costumes, geografia, economia e os mais variados temas relacionados aos nossos países. Os Collado eram cinco, e já possuíam experiência com essa multiculturalidade, pois receberam outros intercambistas antes, viveram nos EUA por um tempo e todos já tinham feito intercâmbio, o que significa que eles sempre estavam buscando enriquecer nossa experiência no México, seja levando para uma viagem, indicando onde encontrar as melhores quesadillas da cidade, ou simplesmente conversando conosco durante o almoço.
O Projeto
Como já mencionei, fui realizar um projeto chamado My Language Buddy, que era bastante flexível e me permitia dar aos alunos uma maneira diferente de aprender, em ambientes descontraídos como cafés, parques e trazer a vivência do Brasil de forma prática: com música, comidas típicas, filmes e até ensinando gírias e expressões do nosso dia a dia, transformando-os em quase nativos!
Pude preparar a maioria do conteúdo ainda estando no Brasil, trocando ideias com uma garota que já estava lá para o mesmo projeto e fui acompanhada ao primeiro dia de trabalho pela minha Host Sister, a Ximena, que era da AIESEC. Uma das minhas maiores preocupações em relação ao intercâmbio era o desempenho do projeto, afinal eu não dominava o espanhol e nunca tinha tido experiências como professora, como é que alguém tem a coragem de sair do próprio país e fazer algo assim?
E foi logo após a primeira aula que pude acabar com esse questionamento: não existem barreiras para a compreensão, apenas formas diferentes de conectar-se com o outro e fazer-se entender. Aquelas pessoas estavam ali para saber um pouco mais sobre o que era tão natural para mim, elas ansiavam por saber como era a vida além de tudo o que eles conheciam. Eu estava lá para abrir todas as portas e janelas para o mundo, e ao mesmo tempo aprender absurdamente e expandir meus horizontes.
Em todos os lugares eu me sentia embaixadora do meu país, e tendo isso em mente, tentei levar o que havia de mais real, quebrando estereótipos e mostrando que o nosso gigante ia muito além do que se pensa. Forró, capoeira, chimarrão, cangaço, brigadeiro e brasileira magrela que não sabe sambar: eu precisava causar (além de receber) um choque cultural maravilhoso também.
México, México, si señor!
Se me pedissem para definir o México em uma só palavra, contrariando diria: intenso e único. Não é possível limitar tanta riqueza. Tudo é muito e tudo é singular. Muita cor, muito calor, muito picante, muito frio, muito doce, muita cebola, muito limão, muita força, muita leveza, muita energia. Só no México “padre” pode significar duas coisas, se aprende a falar mexicano muito mais do que apenas espanhol. Só ali se pode ouvir as genuínas e apaixonadas canções dos Mariachi e sentir a vibração que emana da herança de personalidades marcantes e fantásticas como Frida Kahlo.
O grande ponto é experimentar e se deixar envolver por cada detalhe, buscar entender a realidade daquele país através da sua cultura, sociedade e história.
A diversidade do país é algo que surpreende e chama muita atenção: a flora mexicana é uma das mais variadas do planeta, com pastagens, desertos, bosques de coníferas e selva tropical; tem uma grande diversidade de climas, que são bastante influenciados pelo relevo e pela presença dos oceanos Atlântico e Pacífico; sua fauna também é incrivelmente diversa. É possível encontrar de tudo!
Durante a minha experiência pude viajar bastante, com a família e outros intercambistas, tendo a facilidade de conhecer vários lugares interessantes sem passar tanto tempo dentro de um carro (algo que dificilmente aconteceria em países tão grandes como o Brasil).
Eu vivia em um dos estados mais coloniais do México, com influências europeias nas áreas tradicionais e tendo sua capital conhecida como “Coração da Independência”, Guanajuato.
O que ficou…
Pensar em passar por uma experiência tão diferente de tudo o que você está acostumado, estar longe da família e amigos, não poder se comunicar na sua língua e comer coisas estranhas parece simplesmente a receita pra um desastre. Mas é isso que um intercâmbio é sobre. Aprender a encarar diversas situações inusitadas, dar uma chance ao novo (e só ganhar com isso), descobrir que você pode fazer muito mais pelo mundo e entender que existem infinitas possibilidades de viver a vida. Cada passo pode ser surpreendentemente ótimo.
Sair da inércia não é fácil. Mas uma vez que se inicia o movimento, é impossível não querer cada vez mais.
Sinto uma saudade infinita de absolutamente tudo o que vivi no México, até mesmo de almoçar às quatro da tarde. Mesmo após um ano e três meses de haver regressado, tudo ainda é incrivelmente vívido na memória, cada cheiro, sabor, sensação. Aprendi muito sobre mim mesma, o que é importante pra mim e qual a marca que quero deixar no mundo. Pude me encontrar ali naquela explosão de vida que é o México.
Mantenho os amigos que fiz, sigo tentando não esquecer de nenhuma expressão típica nem sotaque, hoje sou fanática por cebola e diminuí a cara feia depois de um shot de tequila. Mas o que trago de mais valioso em tudo isso é a lição de que tudo só depende de cada um de nós. Lá eu pude sentir a liberdade como nunca havia sentido e por alguma razão a partir daí comecei a acreditar que tudo é possível.
Voltei sem querer voltar, mas mesmo com o coração batendo forte por lá, pude compreender melhor a minha realidade e prolongar o sentimento de que posso fazer minha parte para causar algum impacto. Muita gratidão às pessoas maravilhosas que conheci e me proporcionaram essa experiência, a esse país lindo que me abriu os braços, olhos e horizontes.
Hoje mais do que nunca sei que minha missão é com o mundo, seja no Brasil ou no México, me sinto uma cidadã global.
Por Mylla Gomes
Mylla Gomes é atualmente Diretora de Intercâmbios Sociais para Organizações pela AIESEC em Fortaleza. Se tornou membro em 2014, quando fez seu intercâmbio social no México, e foi gerente de intercâmbios sociais para estudantes. É graduanda em Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal do Ceará.